Justo, Irmão Henrique (Poço das Antas - Rio Grande do Sul)

Vida: 
1922
País: 
Brasil
Autor: 
Danielle Heberle Viegas
Campo de atuação: 
Fotografia Amadora
Fotografia Paisagística
Trajetória fotográfica: 
Instituto São José Canoas
PUC-RS
Museu e Arquivo Histórico La Salle
Destaques: 
Exposição Colégio La Salle Canoas 100 anos (2008)
Livro “Poço das Antas” (1998)

 

José Arvedo Flach, popularmente conhecido como Irmão Justo, nasceu em 25 de julho de 1922, em Poço das Antas/RS, à época distrito da cidade Montenegro. É o terceiro filho do casal Manoel Antônio Flach e Elvira Walter. Trata-se de um Irmão Lassalista, Livre-Docente em Psicologia, que se notabilizou como fotógrafo amador na Região Metropolitana de Porto Alegre.  

Sua atuação fotográfica está intimamente ligada à Congregação Lassalista[1]. Foi em função do seu ingresso na instituição, afinal, que o menino batizado José chegou à cidade de Canoas/RS em idos de 1934. Uma vez instalado no novo destino, adotou o pseudônimo pelo qual hoje é conhecido, fruto do protocolo da época para aqueles que optassem pela carreira de seminarista.

Irmão Justo entrou em contato pela primeira vez com a prática fotográfica ainda durante os seus anos de formação no Instituto São José[2]. Consta que, durante a primeira metade do século XX, os Lassalistas importaram equipamentos tecnológicos diversos voltados à pesquisa e ao ensino, incluindo câmeras fotográficas e projetores de imagens[3].  De acordo com o relato do fotógrafo, a Congregação Lassalista em Canoas chegou a possuir seu próprio estúdio para revelação de fotos, tão embora improvisado. Funcionava junto ao chamado Château[4], casarão próximo às principais edificações da Instituição.

A sede Lassalista em Canoas detinha, também, o seu fotógrafo oficial. Era chamado Irmão Carmilo Alfonso, responsável por registrar, periodicamente, as turmas de formandos, bem como os espaços diversos do estabelecimento. Irmão Justo também foi inspirado no início de sua atividade como fotógrafo amador por seu irmão mais velho, Alberto Arlindo Flach. Ele era igualmente ligado à Congregação Lassalista e, assim como Irmão Justo, ficou conhecido tanto por seu pseudônimo – Irmão Albano Constâncio – quanto por sua dedicação à fotografia enquanto atividade secundária.

Foi através do contato com esses dois fotógrafos que Irmão Justo adquiriu conhecimentos prévios acerca do ato fotográfico e registrou suas primeiras imagens, no final da década de 1940. Inicialmente, as fotografias restringiam-se à própria instituição Lassalista. Os prédios do estabelecimento, de estilo neoclássico, se destacavam na paisagem de Canoas, cidade que, em idos da década de 1930, ainda era um ponto de veraneio da elite porto-alegrense e, no início dos anos de 1950 já havia se tornado a quarta cidade mais populosa do Rio Grande do Sul.

 E, assim como Canoas, também o olhar do fotógrafo se modificou. Dotado de talento e técnica, Irmão Justo produziu em meados de 1952 o seu conjunto fotográfico mais expressivo. Do ponto de vista estético, pois todas as fotos foram tiradas a partir do mesmo local – o alto da Igreja Matriz de Canoas (Paróquia São Luiz Gonzaga), o que indica um conceito norteador na produção das fotos.

 As imagens expõem a cidade de Canoas a partir de diversas direções e são notadamente de estilo paisagístico. O conjunto inclui, no total, doze fotografias, de tamanho 6 x 9 cm, tonalidade preta e branca. Segundo consta, o modelo de máquina fotográfica utilizada por Irmão Justo foi uma câmera Rolleiflex [5]. Segundo o autor, as imagens foram reveladas no Estúdio Bergmann[6], localizado no Centro da cidade de Porto Alegre à época.

 Do ponto de vista profissional, esse conjunto de fotos é representativo, pois, tratam-se de fotografias amplamente divulgadas na cidade de Canoas. As fotos de Irmão Justo foram incorporadas ao longo do tempo por diversas publicações periódicas na cidade[7], tornaram-se fonte de pesquisas acadêmicas, além de terem sido incluídas em exposições, sendo a mais notória delas àquela dedicada ao centenário dos Lassalistas no Rio Grande do Sul, realizada em 2008[8].

A atividade como fotógrafo de Irmão Justo, ainda que amadora, foi diversificada com a produção de uma série fotográfica dedicada a sua cidade natal, Poço das Antas/RS. Trata-se de um conjunto composto por nove fotografias que foram publicadas em obra dedicada ao Município [9]. Na contracapa do livro figura uma vista panorâmica do centro de Poço das Antas, imagem que faz consonância com a preferência de Irmão Justo pelo estilo paisagístico urbano.

A apurada sensibilidade histórica de Irmão Justo certamente está relacionada à sua formação profissional. Na mesma década em que produziu suas principais séries fotográficas, Irmão Justo obteve o título de Doutorado em Psicologia na PUCRS (1952). Em seguida, em 1956, viajou para a Europa, onde realizou especialização em Barcelona (1956 - 1957) e em Paris (1966 - 1967). Permaneceu uma temporada, também, em San Diego - EUA (1976). Nesse período, fez apenas registros fotográficos pessoais das cidades onde residiu, marcando sua trajetória enquanto fotógrafo amador. Atuou, ainda, na PUCRS durante 42 anos, sendo um dos fundadores do curso de Psicologia. A bibliografia que assina enquanto pesquisador é dedicada, sobretudo, à História da Educação e ao trabalho do psicólogo norte-americano Carl Rogers (1902-1987).

A atividade fotográfica de Irmão Henrique Justo foi especialmente importante no contexto de formação histórica de Canoas, cidade metropolitana que raramente foi alvo de registro do poder público municipal e teve o seu acervo fotográfico organizado somente há cerca de vinte anos[10].

 Atualmente, o conjunto de fotografias de Irmão Henrique Justo encontra-se disponível no Museu e Arquivo Histórico La Salle (MAHLS). Em 2006, por iniciativa do próprio fotógrafo, as imagens foram dispostas em um álbum e dotadas, cada uma delas, de uma legenda exclusiva. Junto ao mesmo Museu e Arquivo, está sendo organizado um acervo particular que leva o nome de Irmão Justo. Esse acervo irá incluir, além das fotografias, escritos, objetos e matérias de jornais selecionadas pelo autor. Irmão Henrique Justo hoje reside em Canoas/RS, junto à comunidade dos Irmãos Lassalistas.


[1] Relativa à proposta educativa de São João Batista de La Salle, sacerdote francês (1651-1719) que criou o Instituto dos Irmãos das Escolas Cristãs (1684). A congregação é voltada à educação de crianças, jovens e adultos e à formação de professores. No Brasil, os Lassalistas chegaram primeiro ao Rio Grande do Sul, em 1907, quando fundaram a primeira escola no bairro Navegantes, zona norte de Porto Alegre/RS.

[2] O Instituo São José era o nome da instituição Lassalista em Canoas à época. Foi inaugurado em 4 de março de 1908, com regime de internato, dedicando-se ao ensino primário, comercial e agrícola. De 1926 a 1992, sediou os cursos de formação religiosa Lassalista. Atualmente, a rede Lassalista, em Canoas, engloba o Colégio La Salle bem como o Unilasalle – Centro Universitário da rede.

[3] Conforme atesta o acervo do Museu e Arquivo Histórico La Salle (MAHLS).

[4] Château foi o apelido dado pelos Lassalistas à antiga residência da família Dreher, em Canoas, que foi utilizada como Hotel e Casa Canônica e, enfim, adquirida pela Ordem em 1939, sendo utilizada, a partir de então como sala de estudo e atividades gerais dos Lassalistas.

[5] Tomam-se por base os negativos localizados junto às fotografias originais. Acervo Museu e Arquivo Histórico La Salle (MAHLS).

[6] Segundo o Irmão Henrique Justo, o Estúdio Bergmann ficava localizado na Rua Marechal Floriano.

[7] São exemplos, entre outros: Caderno Especial - 90 anos de presença Lassalista em Canoas. Diário de Canoas, 07 abr. 1998; Uma cidade, seus bairros e sua história - Caderno especial Canoas: 72 anos.  Diário de Canoas, Canoas/RS, 27 jun. 2011.

[8] GRAEBIN, Cleusa M. G.; COSTA, M. Marcelo; VIEGAS, Danielle Heberle; RADTKE, Caren A. M.; Colégio La Salle Canoas 100 anos. 2008 (Exposição fotográfica).

[9] KNOB, Pedro; KNOB, OFM. KNOB, Darcísio.  Poço das Antas: primeiro lugar no ranking de alfabetização. Porto Alegre: Evangraf, 1998.

[10] Consta que o Arquivo Histórico de Canoas entrou em pleno funcionamento somente ao longo da década de 1990, tendo a sua inauguração ocorrida em 1989. 

 

Referências: 
GRAEBIN, Cleusa Maria Gomes. Igreja, Poder e Educação: os Lassalistas na América Latina (1900 a 1930). Dissertação de Mestrado (Programa de Pós-Graduação em História). UNISINOS, 1998.
KNOB, Pedro; KNOB, OFM. KNOB, Darcísio. Poço das Antas: primeiro lugar no ranking de alfabetização. Porto Alegre: Evangraf, 1998.
VIEGAS, Danielle Heberle. Entre o(s) passado(s) e o(s) futuro(s) da cidade: um estudo sobre a urbanização de Canoas/RS (1929-1959).
Disponível em: http://tede.pucrs.br/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=3289. Acesso em agosto de 2012.

 

 

ISBN: 978-85-63735-10-2