José Reduzino de Araújo, profissionalmente conhecido como Zeka Araújo, nasceu em 30 de novembro de 1946, no bairro do Jardim Botânico, Rio de Janeiro. Apesar de ter residido em inúmeros países , a paixão do fotógrafo por Copacabana sempre o atrairia de volta ao Rio, onde vive atualmente. No Jardim Botânico passou toda a sua infância, marcada pela presença de vizinhos ilustres como Janete Clair e Dias Gomes, tendo Guilherme e Denise - filhos de Janete - como seus grandes amigos de infância. Ao longo desse período sua vida teve a influência esportiva do turfe – seu pai e seu avô eram jockeys, treinadores ligados à corrida de cavalo. E o próprio Zeka diz que, em sua lúdica visão infantil, os cavalos eram seus amigos e brinquedos de verdade! Rompendo com a tradição familiar, porém, ainda cedo optou por uma trajetória diferente, passando pelos estudos de piano, pelo ginásio, até servir no Exército.
Sua experiência com a fotografia começou por volta dos catorze anos, quando aos domingos fotografava os amigos do time de futebol na Gávea. Nesta mesma época seria o editor de fotografia do “Rota 15”, um pequeno jornal impresso em mimeógrafo que contava com a participação do também vizinho Paulo Coelho. Tal experiência, embora pequena, consistiu num trampolim para o “Diário de Notícias”, quando em 1967 Zeka Araújo iniciaria sua trajetória profissional – ocasião em que pôde fotografar o caso Edson Luiz em plena ditadura, embora a foto não tenha sido devidamente creditada e publicada em outro jornal.
Em 1968 receberia um convite para trabalhar no “O Cruzeiro”, sendo seu mestre-editor Ed Keffel. A partir de então receberia crédito pelas suas próprias fotos, embora ainda com o nome José Araújo – apenas posteriormente assumiria profissionalmente o apelido de família, Zeka Araújo, com k. Ali no “O Cruzeiro” teve contato com fotógrafos importantes como Indalécio Wanderley, que geralmente fotografava a Miss Brasil, e Ed Caulfield, profissional com quem Zeka Araújo teria um curso técnico relevante, responsável em grande medida pela foto de capa do pé do astronauta em solo lunar. Quando por volta dos vinte anos de idade seria convidado a assumir o lugar de Indalécio Wanderley no estúdio do jornal durante as férias do veterano fotógrafo – tal estúdio era então o maior da América Latina.
Possuindo desde cedo grande prestígio, na década de 1970 seria convidado por Nina Chavez a integrar o Caderno Ela do “O Globo”. Já estabelecido no jornal, porém, seria direcionado por Erno Schneider, chefe de fotografia, a capturar os casos de polícia – tema que não agradava muito o fotógrafo. Apesar disso, este período representou o início de maior autonomia financeira em relação à família. Representou também o início da luta pelo direito autoral, via sindicato.
No “O Globo” realizou uma fotografia marcante, fruto de um furo de reportagem que se tornaria capa do jornal – o sequestro de um embaixador americano no aeroporto do Galeão, Rio de Janeiro. O sucesso da imagem alavancou o status do fotógrafo, que foi enviado à Transamazônica para lá permanecer por quarenta dias, além de se estabelecer na seção de futebol do jornal quando realizou a cobertura de três jogos, ganhando maior visibilidade. Tanto que, a partir do terceiro jogo, seria convidado em 1972 pelo “O Placar” para um estágio profissional, recebendo o dobro do que ganhava.
No “Placar” começou fotografando jogos de futebol apenas, mas logo cedo fotografaria esportes em geral. Esse inclusive foi um período rico em viagens – Zeka Araújo passaria por cerca de dezoito países e, por volta de umas quinhentas cidades, tendo a oportunidade de fotografar o Grande Prêmio da Inglaterra de Fórmula 1 e a Copa do Mundo na Alemanha. Aliás, suas preocupações artísticas no “Placar” tinham muito mais que ver com a plasticidade da fotografia do que com o momento exato do gol ou do carro ultrapassando a linha de chegada – Zeka afirma que procurava ver o jogo “como um balé” e como um “conflito”, conferindo um “tratamento pictórico” à sua produção. Sendo assim, até o final dos anos 1970 a editora Abril o manteria com base em Londres, onde atuaria não apenas no “Placar”, mas também na revista “Veja”.
Aliás, nesse período Zeka Araújo conheceu Sul David, fotógrafa que tinha um projeto para a construção de um centro de referência fotográfica na Inglaterra. A partir de então ele atuaria como estagiário voluntário e produziria paralelamente fotografias para a Embaixada Brasileira. Esse foi um período fértil do ponto de vista artístico, já que o fotógrafo passava a compreender a sua produção para além da informação, identificando nela um conceito. Esse foi também um período relevante no âmbito pessoal e familiar, afinal, Zeka Araújo se tornava pai pela primeira vez. Em todo caso, ele permaneceu em Londres durante três anos, de sorte que em 1978 negociaria com a Abril sua saída da editora e seu retorno ao Brasil, fortemente influenciado pela experiência londrina e pela ideia de construir um centro brasileiro de fotografia.
Em 1978 faz freela para a revista mensal “Repórter 3” e no ano seguinte apresentou um projeto à FUNARTE chamado “Núcleo de Fotografia”, um curso fotográfico inaugurado em agosto que repercutiu surpreendentemente na imprensa. Abriu sua primeria galeria nesse mesmo mês. Era o passo inicial para a inauguração de outras galerias e núcleos fotográficos em diversos Estados brasileiros, passando pelo Rio, São Paulo e Curitiba. A fotografia ganhava assim um estatuto artístico próprio – evidenciavam-se suas peculiaridades em relação às outras artes, assim como se abria um amplo debate a respeito do status autoral e conceitual. Com a promoção do debate a respeito da conservação, juntamente com as exposições e publicações de catálogos e livros sobre arte e fotografia contemporâneas, o tempo de contribuição na FUNARTE foi imprescindível na trajetória profissional de Zeka Araújo.
Em 1982 surgem outros projetos. O primeiro é um convite feito pelo Museu de Arte Moderna (MAM) para a curadoria de fotografia do colegiado da instituição, bastante pautada na concepção autoral/conceitual aprendida pelo Zeka em Londres – inclusive sua atuação no museu geraria um subproduto paralelo, a agência “Casa da Foto”. Fez a curadoria para a comemoração dos 25 anos de profissão de Walter Firmo, com a produção "Ensaio no Tempo", ocupando todo o segundo andar do MAM. Concomitantemente, o fotógrafo participou da construção da sucursal da F4 no Rio de Janeiro (1985) ao lado de figuras importantes como João Ripper e Rogério Reis. A inserção na agência independente permitiu contratos com alguns jornais e revistas, tais como a “Revista de Domingo” e a “Info”. Entretanto, o grande cliente era mesmo o “Jornal do Brasil”, de sorte que todas as fotos eram publicadas com os devidos créditos e as pautas eram construídas conjuntamente.
Zeka Araújo permaneceria na F4 durante quase três anos, ao final dos quais o fotógrafo não identificaria mais na agência o seu caráter de cooperativa de fotógrafos, o seu princípio de igualdade. Sendo assim, o próximo passo em sua trajetória profissional foi assumir provisoriamente o cargo de editor do “Jornal do Brasil”, convite feito por Alberto Ferreira quando de suas férias. Durante cerca de seis meses Zeka Araújo pôde chefiar grandes nomes do jornalismo e da fotografia, como Evandro Teixeira e Ari Gomes, entre outros. Passado o período como editor, o fotógrafo ganharia o “Prêmio Marc Ferrez” de Contribuição à Fotografia (1991), além da bolsa Rio-Arte, mediante a qual visitou diversos lugares do estado para fotografar paisagens no âmbito da relação natureza/cultura.
Porém, entre a saída da F4 e o “Prêmio Marc Ferrez”, Zeka firmaria uma importante parceria com o amigo e músico Tom Jobim, com quem publicou o livro “Meu querido Jardim Botânico” (1988, Editora Expressão e Cultura), tendo uma 2ª edição comemorativa sido impressa para celebrar os 10 anos da morte do poeta-amigo. Em 1990 ingressou na “Manchete” como editor de fotografia, permanecendo na revista por cerca de dois anos – após esses eventos Zeka Araújo se dedicou à produção de pautas independentes e autorais, sem as credenciais de reportagem.
No ano de 1993 ganhou o “Prêmio Fundação Marc Chagall”, em Porto Alegre, de sorte que entre 1994 e 1995 tornou-se professor de fotografia na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, Rio de Janeiro, vindo a receber do Ministério da Cultura, em 1996, o “Prêmio Nacional da Fotografia” pelo conjunto da obra. Atuou também como produtor cultural a partir do ano 2000, quando organizou a exposição “Devir” no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB-RJ). Nas palavras do próprio fotógrafo, sua trajetória seria marcada em grande medida neste início de século pela compreensão da fotografia no plano artístico, ético e filosófico.
Entre novos caminhos e possibilidades, Zeka Araújo migraria de bom grado para a fotografia digital. Em 2000 publicou o livro “Rio Zona Norte” e, no ano seguinte, criou e apresentou o seminário “Conversa do Olhar”, também no CCBB. Em 2002 apresentou quatro programas para o canal televisivo GNT, abordando temas concernentes ao fotojornalismo brasileiro, além de ministrar cursos no Instituto Brasileiro de Audiovisual e atuar como consultor do programa Arquivo N, da Globonews. Em 2004 cuidou da fotografia e direção do documentário “Richard Wagner meets Brasil”, da produtora alemã Gateway4M, dirigindo em 2005 dois documentários sobre a crise da saúde no Rio de Janeiro. Ministrou um curso para adolescentes e jovens carentes de Acari e Irajá, no Rio de Janeiro. E realizou, em parceria com Vicente Duque Estrada um curta, de 17 minutos intitulado "Muito prazer Walter Firmo".