Serafini, Giovanni Battista (Treviso - Vêneto - )

Vida: 
1869 a 1954
País: 
Itália
Autor: 
Anthony Beux Tessari
Campo de atuação: 
Retratos fotográficos
Fotografias de Paisagem
Serviços de Estúdio
Trajetória fotográfica: 
Serafini & Irmãos
Gio Batta Serafini
Photographia Americana
Destaques: 
Autor de algumas fotografias do “Álbum Recordação das Colônias Conde D’Eu, D. Isabel, Alfredo Chaves, Antonio Prado e Caxias”, um dos mais antigos suportes visuais da região de colonização italiana do RS

Giovanni Battista Serafini nasceu em Treviso, no Vêneto, Itália, em 1869. Aos 23 anos de idade, instalou seu estúdio fotográfico na então Vila de Santa Teresa de Caxias (atual Município de Caxias do Sul), na rua Sinimbu, entre as ruas Vila Bela (atual rua Dr. Montaury) e Visconde de Pelotas, bem próximo à praça Dante Alighieri, marco zero da vila.

O estúdio de Giovanni Battista Serafini permaneceu ativo na cidade até pelo menos o ano de 1912, como é possível perceber a partir de uma fotografia produzida quase em frente ao estabelecimento nesse ano. O ateliê ficava anexo a uma casa comercial, a Loja Serafini, que era controlada pelo irmão de Giovanni, também seu sócio. Conforme entrevista com Luiz Chiaradia Serafini, sobrinho de Giovanni Battista, o estabelecimento do fotógrafo, junto à loja especializada em secos e molhados do irmão, ficava aberto aos domingos, para aproveitar a vinda dos colonos para a sede da vila. Após participarem da missa na igreja matriz e da feira na praça Dante Alighieri, alguns visitavam os amistosos irmãos Serafini para provar la minéstra (uma sopa, servida ao meio-dia) e, depois, para posar para um retrato.[i]

O apelido do fotógrafo era Gio Batta, conforme consta no verso de algumas de suas fotografias. Por meio de outras, o estúdio também era conhecido por “Photographia Americana”. Como lembra o sobrinho do fotógrafo, que chegou a auxiliá-lo desde cedo a carregar os materiais de fotografia, o atelier de Gio Batta era “um ambiente formidável”: a construção possuía “telhado de vidro” (claraboia) para um melhor aproveitamento da luz natural, e o cenário era adornado com folhagens vivas e dois painéis, um neutro (branco), e outro com uma grande paisagem, que teria sido pintada pelo próprio fotógrafo. O mesmo sobrinho também recorda que Serafini praticava a técnica do retoque diretamente nas chapas de vidro e produzia fotopinturas, com tinta óleo.

Em um informe comercial publicado através do jornal O Caxiense, de 15 de janeiro de 1898, o estabelecimento do fotógrafo anunciava: “PHOTOGRAPHIA – Os irmãos Serafini, a praça Dante, tiram retratos por todos os systemas modernos, garantindo perfeição e preços moderados”[ii].

Além de retratos tirados por todos os “systemas modernos”, confeccionados nos formatos carte-de-visite e carte-cabinet, Giovanni Battista Serafini também produziu algumas vistas fotográficas. É provavelmente de autoria deste fotógrafo uma preciosa imagem da travessia de imigrantes sobre o rio Caí, datada da década de 1890.

O rio Caí era utilizado como rota fluvial pelos imigrantes que se dirigiam às colônias Caxias, Conde D’Eu, Dona Isabel e Alfredo Chaves. Na bela composição da foto feita por Gio Batta, percebe-se uma balsa utilizada para a travessia de cavalos, figuras humanas em um pequeno barco e, já em terra, uma tropa de gado vacum que puxa carretas e carroças que seguem caminho adentrando uma estrada cercada pela mata fechada. A partir daí, tinha início uma marcha em direção a Serra, que chegava a durar até três dias, devido à precariedade das estradas. Essa longa jornada, pela qual provavelmente deve ter passado o fotógrafo ao chegar como imigrante à região foi escolhida para ser eternizada por Gio Batta nessa rica imagem visual.

Também são de autoria de Giovanni Battista Serafini algumas das imagens presentes no “Álbum Recordação das Colônias Conde D’Eu, D. Isabel, Alfredo Chaves, Antonio Prado e Caxias”, um álbum fotográfico com 67 provas em papel albuminado com vistas das antigas colônias italianas do Rio Grande do Sul, produzido entre as décadas de 1880 e 1900, sendo estes os registros visuais mais antigos da região. Conforme constam em registros de pagamento pelos serviços fotográficos, o álbum foi encomendado pela Comissão de Terras e Medição dos Lotes, subordinada à Inspetoria Especial de Terras e Colonização, de Porto Alegre, e ligada ao Ministério da Agricultura.

Como se depreende dos suportes fotográficos das imagens de Gio Batta, o fotógrafo conhecia e praticava a técnica da albumina, e possuía uma câmera de médio formato. Os materiais fotográficos eram comprados em Porto Alegre, trazidos em uma viagem de vapor até São Sebastião do Caí e, depois, no lombo de mulas até a então vila de Caxias.

Giovanni Battista Serafini faleceu em 1954, na capital Porto Alegre, município no qual fixou residência após encerrar as atividades de seu estabelecimento fotográfico em Caxias do Sul.

Algumas provas fotográficas produzidas pelo fotógrafo (em formatos variados, além do “Álbum Recordação das Colônias...”) compõem o acervo do Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami de Caxias do Sul (RS).




[i] SERAFINI, Luiz Chiaradia. Luiz Chiaradia Serafini [sobrinho de Giovanni Battista Serafini]: depoimento [1982]. Entevistadores: J. Zucoloto, T. Tonet. Caxias do Sul: Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami (AHMJSA), 1982. 1 cassete sonoro. Entrevista concedida ao Banco de Memória do AHMJSA.

[ii] PHOTOGRAPHIA. O Caxiense. Caxias do Sul, 15 jan. 1898.

 

Referências: 
TESSARI, Anthony Beux. Imagens do labor: memória e esquecimento nas fotografias do trabalho da antiga Metalúrgica Abramo Eberle (1896-1940). Porto Alegre, 2013. Dissertação (Mestrado em História) – FFCH, PUCRS. Disponível em <http://tede.pucrs.br/tde_busc

 

 

ISBN: 978-85-63735-10-2