Horta, Assis (Diamantina - Minas Gerais)

Vida: 
1918
País: 
Brasil
Autor: 
Cleber Soares da Silva
Campo de atuação: 
Retratos fotográficos
Fotografia documental
Serviços de estúdio
Registro de eventos
Trajetória fotográfica: 
PhotoAssis (Diamantina – MG)
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN)
Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (IEPHA)
Destaques: 
Levantamento fotográfico de Diamantina (MG) – 1937/1987
Retratos em estúdio de operários negros e mestiços – décadas de 1930/1940
Medalha Santos Dumont (1975) – Governo do Estado de Minas Gerais
Medalha de Honra Presidente Juscelino Kubitschek (2008) - IEPHA
Placa pela sua “relevante contribuição à cultura do nosso País” (2010) - Ministério Público de Minas Gerais (MPGM) / Promotoria Estadual de Defesa do Patrimônio Cultural e Turístico de Minas Gerais
Exposição “A Democratização do retrato fotográfico através da CLT”(2014) – Palácio do Planalto, Brasília (DF)
Exposição “Assis Horta – Retratos”(2015) – Palácio das Artes, Belo Horizonte (MG)
Exposição “Assis Horta – Retratos”(2017) – Espaço Cultural BNDES, Rio de Janeiro (RJ)

Assis Alves Horta nasceu em 28 de janeiro de 1918, em Diamantina. Filho de José Alves Horta e Maria das Dores Moreira Horta. Ficou órfão de pai aos cinco anos e se casou, aos 24 anos, com Maria da Conceição Monteiro com quem teve dez filhos. Desde os nove anos Horta mantinha relação de amizade e de trabalho, como ajudante e aprendiz, com o fotógrafo Celso Tavares Werneck Machado, estabelecido no centro da cidade. Assis logo aprendeu o básico da profissão e em 1936, recebeu a proposta de Machado para que comprasse o antigo Estúdio Werneck, rebatizando-o como Photo Assis. Horta comprou também o arquivo de Machado que incluía fotos e negativos datados da virada do século XIX e fotografias de Chichico Alkmim.[1]
Para sustentar os filhos Horta não escolhia trabalho. Além do serviço prestado em seu estúdio fotográfico – onde fazia fotografias dentro dos cânones do retrato de estúdio oitocentista e fotos de identificação tipo 3x4 –, saía pela região fotografando garimpos, garimpeiros e suas famílias, fábricas e seus operários, seguindo a tradição dos antigos fotógrafos itinerantes que percorreram os recantos mais distantes de Minas Gerais entre o fim do século XIX e começo de XX.
Na região o fotógrafo era também muito requisitado para registrar festas particulares, cerimônias oficiais e religiosas. Sob suas lentes passaram todos os estratos da sociedade diamantinense entre as décadas de 1930 e 1980. O Photo Assis era frequentado tanto pela elite quando pelos pobres operários das fábricas locais. São justamente os registros fotográficos de operários negros e mestiços que renovaram o interesse pela obra do fotógrafo nos últimos anos. Assis Horta registrou o rosto do trabalhador entre as décadas de 1930/1940, justamente quando esses brasileiros conseguiram suas históricas conquistas trabalhistas.
Em razão da Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT), decretada pelo governo de Getúlio Vargas, em 1º de maio de 1943, e à obrigação das fotos 3x4 em carteiras de trabalho que muitos operários tiveram contato com a fotografia pela primeira vez. Os retratos de afro-brasileiros e mestiços pobres, seus familiares e amigos feitos no Photo Assis são herdeiros das tradições dos carte de visite e só encontram analogia, até o momento, nos retratos de Militão Augusto de Azevedo, produzidos em fins do século XIX na cidade de São Paulo e na obra do também diamantinense Chichico Alkmim, realizada no começo do século XX. Horta desenvolveu uma carreira bem-sucedida de retratista como comprovam os mais de cinco mil negativos em vidro que compõem seu acervo, atualmente conservado em sua casa em Belo Horizonte (MG).
Em paralelo ao trabalho de retratista, Horta foi personagem fundamental para a preservação de monumentos em Diamantina. O fotógrafo faz parte do seleto grupo de profissionais pioneiros na busca, identificação e preservação de elementos da arquitetura tradicional do período colonial brasileiro, os chamados “fotógrafos do Patrimônio”.[2] De acordo com a publicação “Cadernos de Pesquisa e Documentação do IPHAN”, lançada em 2008, o levantamento fotográfico de Diamantina, feito por Horta no final da década de 1930, serviu de base para instruir o processo de tombamento da cidade, em 1938, e para a conquistado título de Patrimônio Cultural da Humanidade, concedido pela Unesco, em 1999 (LIMA et al, 2008).
Assis Horta conheceu o diretor do SPHAN Rodrigo Melo Franco de Andrade em 1937.[3] Rodrigo e seus colaboradores (equipe de profissionais formada por pesquisadores, historiadores, juristas, arquitetos, engenheiros, conservadores, restauradores), baseados no escritório no Rio de Janeiro, se uniram para a realização de inventários, estudos e pesquisas para a execução de obras de conservação e restauração de monumentos, assim como para a organização de arquivos de documentos públicos e particulares, que juntos se tornaram o valioso acervo do atual Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Rodrigo, na época, necessitava de um assistente com conhecimentos básicos em fotografia e que conhecesse muito bem as cercanias de Diamantinapara fazer os registros fotográficos das relíquias arquitetônicas da região. Horta prestou com eficiência o serviço de fotógrafo como freelancer, sendo nomeado funcionário público, em 1945, para trabalhar no 3º Distrito do SPHAN em Diamantina (HORTA, 2015).
De acordo com o “Mapeamento Preliminar das atividades dos fotógrafos do IPHAN (1937-1987)”, feito a partir das fotografias que compõem a “Série Inventário e os Processos de Tombamentos”, realizado em 2006 e publicado em 2013, de um total de mais de 200 mil imagens, 60.086 são fotografias dos chamados fotógrafos pioneiros do IPHAN. No entanto, apenas 25.973 fotos tiveram sua autoria confirmada. De um total de 353 fotógrafos mapeados até aquele momento pelo Instituto, 41 profissionais destacaram-se pelo critério quantitativo (maior produção) e Assis Horta está entre estes (FONSECA; CERQUEIRA in GRIECO, 2013).
Assis Horta fez registros em boa parte de Minas Gerais, de norte a sul do estado. Entre 1937 e 1945, fez levantamentos fotográficos, plantas de imóveis e pesquisas históricas para tombamentosno Serro, Minas Novas, Berilo, Chapada, Virgem da Lapa, etc. De 1945 a 1967, trabalhou para o registro, preservação e restauração de bens tombados e na organização do Museu do Diamante e da Biblioteca Antônio Torres, em Diamantina, e do museu da Casa dos Ottoni, no Serro. Paralelamente, desde 1973 até 1978, o fotógrafo desenvolveu atividades para o Instituto Estadual do Patrimônio Histórico do Estado de Minas Gerais (IEPHA). Organizou também o acervo documental e fotográfico do Santuário do Bom Jesus, em Congonhas, além de contribuir para a organização dos museus Cabangu, em Santos Dummont e Guimarães Rosa, em Cordisburgo (LIMA et al, 2008).

 

  • [1]. ]ChichicoAlkimimfoi o mais importante fotógrafo de Diamantina nas primeiras três décadas do século XX e seu trabalho teve grande importância para a formação de Assis Horta.
  • [2]. Os “fotógrafos do Patrimônio” são aqueles profissionais que participaram da fase pioneira e formadora do atualmente denominado IPHAN, compreendida entre os anos de 1937 a 1987, listados no “Mapeamento Preliminar das atividades dos fotógrafos do IPHAN”, editado em 2008 (FONSECA; CERQUEIRA in GRIECO, 2013).
  • [3]. Rodrigo Melo Franco de Andrade (1898-1969), advogado e jornalista, foi designado pelo ministro da Educação e Saúde, Gustavo Capanema, em 1936, para organizar e dirigir o Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN), atualmentedesignado IPHAN, onde trabalhou até 1967, data da sua aposentadoria. Sob sua direção foram tombados cerca de 176 monumentos e obras de arte, 28 conjuntos arquitetônicos parciais e 12 conjuntos arquitetônicos em cidades históricas. Rodrigo foi o criador da “Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional”, cuja primeiro número circulou em 1937 e é editada até os dias atuais pelo IPHAN (FONSECA; CERQUEIRA in GRIECO, 2013).
Referências: 
FERRAZ, Eucanaã. Diamantes, vidro, cristal. In: ChichicoAlkmim fotógrafo. São Paulo: IMS, 2017.
FONSECA, Brenda Coelho; CERQUEIRA, Telma Soares. “Mapeamento preliminar das atividades dos fotógrafos no IPHAN (1937-1987)”. In: GRIECO, BettinaZellner (Org.). Entrevista com Erich Joachim Hess. Rio de Janeiro: IPHAN/DAF/Copedoc, 2013. p. 9-38. (Memórias
HORTA, Isnard Monteiro. Cartas de viagem: Assis Alves Horta, 1954. Belo Horizonte: Edição do autor, 2015.
LIMA, Francisca Helena B; MELHEM. Mônica M; CUNHA, Oscar Henrique de Brito e. “Afotografia na preservação do patrimônio cultural: uma abordagem preliminar”. In:Cadernos de pesquisa e documentação IPHAN. Rio de Janeiro: IPHAN, COPEDOC, 2008.
http://www.ufjf.br/ppgacl/files/2017/05/Dissertacao_O_Olhar_de_Assis_Horta_CleberSoares.pdf

 

 

ISBN: 978-85-63735-10-2