A história da fotografia brasileira possui seus atores emblemáticos, como Marc Ferrez (1843-1923) e Augusto Malta (1864-1957). Mas tem seus heróis quase desconhecidos ou anônimos que, encantados com a possibilidade de registrar em imagens a realidade, nos deixaram documentos relevantes para a memória e a história do país. Um expressivo número de fotografias do acervo da Fundação Oswaldo Cruz foi produzido por Joaquim Pinto da Silva, o J. Pinto, como ficou conhecido. Este fotógrafo produziu milhares de imagens, documentando os trabalhos científicos, os primeiros prédios da instituição e as transformações urbanas da região onde seria construído o centro de pesquisa, ensino e produção de medicamentos.
Inicialmente, J. Pinto ocupou um acanhado e improvisado chalé, onde o laboratório fotográfico dividia espaço com a biblioteca do recém-criado Instituto Oswaldo Cruz (IOC). Em 1911, quase finalizado o Pavilhão Mourisco, J. Pinto seria instalado no belo castelo. Podemos observar, em seu trabalho, um notável domínio das técnicas fotográficas. Autor de inúmeras imagens, negativos em vidro e microfotografias científicas, J. Pinto, em final de 1928, enviou aos amigos um cartão desejando um feliz ano novo, contendo a imagem de seu rosto reproduzida cinco vezes. Este fato remete à original fotografia conhecida como Os Trinta Valérios, realizada por Valério Vieira (1862-1941), em torno de 1901. O registro, um marco na história da fotografia, traz 30 imagens do fotógrafo.
Pouco se sabe da vida deste importante personagem. No próprio acervo da Fiocruz, J. Pinto pouco aparece, a não ser em imagens de uma provável caçada em companhia de Carlos Chagas, ou em seu laboratório fotográfico. Nascido em Alagoinhas, na Bahia, em 1884, J. Pinto teria vindo em 1898 para o Rio de Janeiro com 14 anos. Seus pais eram José Camerino Pinto da Silva e Maria da Purificação. Casou-se com Izaura Costa da Silva e tiveram cinco filhos: Wilson, Milton, Elza, Zeni e Ilda. Depois de morar no Centro da cidade, comprou um terreno no Méier, na Rua Jacinto, número 67, construindo ali sua casa.
Em 1903, contratado por Oswaldo Cruz na fase inicial das atividades em Manguinhos, ele começou a documentar a construção do que viria a ser um dos principais centros de ciência e saúde do Brasil. Foi fotógrafo da instituição até 1946, quando se aposentou em decorrência de problemas de saúde. Mas as imagens produzidas por ele permaneceram como a memória fotográfica da Fundação Oswaldo Cruz.
As fotos de sua autoria também mostram um Rio de Janeiro em processo de urbanização. J. Pinto, que se tornou amigo de Oswaldo Cruz (1872 - 1917) e de Carlos Chagas (1879-1934), fotografou o aspecto rural de Manguinhos, que foi se transformando. Estão registrados a construção do Castelo, da avenida Brasil, os pesquisadores e instalações físicas. Em seus registros também aparecem construções, como o aquário, demolido, que era ligado à Baía de Guanabara por uma tubulação subterrânea, onde se estudavam organismos aquáticos; a cavalariça e a chaminé do forno de incineração do lixo da cidade, arrasada no início da década de 1940.
Muito provavelmente, J. Pinto foi o autor do primeiro filme científico feito no Brasil, Chagas em Lassance (1909). A obra, com 9 minutos de duração, documenta a descoberta da doença de Chagas, feita pelo cientista Carlos Chagas, em Lassance, Minas Gerais. Esse filme foi exibido na Exposição Internacional de Higiene e Demografia de Dresden, na Alemanha (1911).
J. Pinto faleceu em outubro de 1951.