Claudia Ferreira da Silva nasceu em 06 de agosto de 1955, no Rio de Janeiro, filha de
Carminda Teixeira Silva e Alexindo Ferreira da Silva, e irmã de Maria Helena Ferreira
da Silva. A fotografia sempre fez parte de sua vida, desde quando era pequena,
incentivada pela sua mãe que era fotografa amadora. Claudia diz que virou fotografa
porque não tinha paciência de ficar na frente da câmera esperando a mãe regular o foco
e a velocidade. Historiadora de formação articula a sua dimensão de historiadora com a
sua prática fotográfica voltada para os movimentos sociais e políticos e também no seu
cuidado de arquivar.
Teve a sua formação escolar realizada em colégios voltados às moças da classe média
carioca, como o colégio Imaculada Conceição, no bairro de Botafogo e no Instituto
Lafayette, na Tijuca. Cursou o ensino superior em História na FAUP, entre os anos de
1972 e 1977, e durante esse período dividiu a sua vida entre a faculdade e a sua
formação como fotógrafa. Realizou em 1975 o curso de fotografia no SENAC, que
fornecia formação teórica, juntamente a prática de laboratório. Nesse período passou a
fotografar mais e criou um laboratório em sua casa, onde começou a revelar e a ampliar
as suas fotos. Momento decisivo para a escolha do que queria realmente ser: fotógrafa.
Em 1975, passou a ser fotografa colaborada no Jornal do Brasil, teve uma breve
passagem no Jornal Última Hora, no mesmo ano e, em 1987, trabalhou na sucursal do
Rio de Janeiro da Folha de São Paulo. Além do seu contato com o fotojornalismo que
contribuiu na construção do seu olhar fotográfico, atuou no fim dos anos 1970 em
fotografia de cinema, fotografia still e foto de cena, fotografando curtas, teatros e shows
para divulgação.
Durante a década de 1980 a sua atuação fotográfica deu uma guinada, passou a dedicar-
se somente a fotografia, deixando de atuar como professora de história, e começou a se
envolver com projetos ligados à área de cultura e política, fotografando campanhas
políticas e, ao mesmo tempo, fotografando de forma independente o processo de
redemocratização e as manifestações políticas dos anos 1980. Deu inicio a constituição
do seu acervo fotográfico em 1987/1988, basicamente composto pela ligação política
que manteve com os movimentos sociais.
O primeiro movimento social que participou ativamente como fotógrafa foi o
movimento feminista, que é um dos grandes destaques na sua trajetória profissional.
Desde 1988, por conta de trabalhos de cobertura política, ela passaria a se identificar
com o movimento e a participar dos fóruns feministas do Rio de Janeiro e registrar
fotograficamente a sua trajetória. A primeira passeata que fotografou, e que marcou
profundamente o seu olhar fotográfico, foi a passeata do 08 de Março de 1988, como
relembra a fotógrafa.
A partir do seu contato com movimento feminista, Claudia Ferreira passou a
documentar inserindo-se no espaço público visual contemporâneo através de sua prática
fotográfica. Um movimento consolidou suas parcerias com o movimento negro, e
posteriormente na década de 1990 com o movimento LGBTQIA+, e a atuar ativamente,
também, no CACES (Centro de Atividades Culturais Econômicas e Sociais), uma
organização não governamental vinculada ou Partido dos Trabalhadores (PT), devido a
sua atuação no movimento feminista.
Com o seu envolvimento no CACES e a sua atuação fotográfica, Claudia passou a
coordenar projetos e participar de conferencias internacionais do Ciclo de conferencias
da ONU, participando da ECO-92, como organizadora do Planeta Fêmea, da
Conferência de Beijing, onde foi coordenadora da tenda da América Latina e do Caribe.
Evento em que ia como organizadora mas levava a sua câmera e registrava tudo, depois
vendia as suas fotografias para alguns meios de comunicação garantindo a circulação na
grande imprensa de uma imagem engajada.
A primeira vez que ela foi chamada para fotografar foi no Fórum Social Mundial, em
Porto Alegre em 2001, a partir desse momento ela passou a ser convidada como
fotógrafa para esses eventos e a ser contrata por ONGs que organizavam seminários ou
eventos para grupos específicos de movimentos sociais, foi a sua consagração como
fotógrafa de movimentos sociais. Uma trajetória que se forjou na prática de fotografar
as mulheres em movimento: o Primeiro Encontro Internacional das Mulheres na
Floresta Amazônica (1998), O Primeiro encontro Internacional das Parteiras da
Floresta Amazônica (1998), A Conferência das Mulheres Brasileiras (1995), e diversos
outros encontros sobre os movimentos sociais e de identidade, principalmente os de
mulheres ( http://www.memoriaemovimentossociais.com.br/ ).
As fotografias que ela realizou dos movimentos de políticas de identidade modelaram a
sua participação profissional nesses movimentos, e quando algum grupo precisava de
alguma fotografia eles sabiam que Claudia poderia ter, e é dessa forma que funciona até
os dias de hoje o seu banco de imagens e, também, a sua sobrevivência profissional
como fotografa, de vender as suas fotografias. A organização de seu acervo fotográfico
levou a fotógrafa investir em projetos de arquivo e parecerias com grupos de pesquisa
entre os quais o Laboratório de História Oral e Imagem (LABHOI-UFF)
Nos mundos da arte, a sua primeira exposição ocorreu em 1989 com o fotografo Ripper,
na Central do Brasil, sobre os direitos das mulheres na constituinte e depois foi para a
Conferência Nacional contra o Racismo, para a Conferência Nacional na Uerj e na
UFRJ, no Instituto Italiano de Cultura, e também para o dia 08 de Março no Centro
Cultural em Rio Claro, São Paulo.
Realizou uma exposição de fotografias com a Cláudia Bonan, “As Mulheres naquele
tempo, assim começava o século XXI”, onde começou a ordenar o seu material do
movimento das mulheres e depois da exposição que ocorreu em 2003, veio o
lançamento do livro em 2005, com auxilio da Fundação Ford e com o apoio para a
impressão da Secretaria Especial de Políticas para Mulheres.
Depois do lançamento do livro e da organização do seu acervo do movimento das
mulheres, Claudia Ferreira percebeu que o caminho a seguir com o seu acervo seria um
banco de imagens, por conta da mudança de paradigma em relação à imagem, da
imagem analógica para a imagem digital, as suas principais questões atualmente, como
fotografa, são em relação a mudança do analógica para o digital e a sua durabilidade,
bem como a organização de acervos.
A constituição do seu acervo digital faz parte do seu projeto de história pública e de
memória de uma fotógrafa-historiadora, que ao mesmo tempo que manteve presente em
seu olhar as críticas sociais, investiu em um acervo que possibilitasse a construção de
uma história visual desde os anos 1980, a construção de um acervo digital foi a fim de
possibilitar o acesso das suas imagens para pesquisas futuras, por esse motivo o seu
lado historiadora aflorou e realizou o acervo seguindo os protocolos atuais de pesquisa
com imagens, possibilitando a construção de uma história pública visual.