Rosenthal, Hildegard (Zurique - )

Vida: 
1913 a 1990
País: 
Suíça
Autor: 
Luiza
Campo de atuação: 
Fotojornalismo
Fotomontagem
Trajetória fotográfica: 
Agência Press Information
Folha de São Paulo
Estado de São Paulo
La Prensa
Revistas Geography Magazine
Observador
A Cigarra
Sombra e Rio
Destaques: 
Primeira mulher fotojornalista a atuar no Brasil
Prêmio de melhor fotógrafa na 14ª Bienal Internacional de São Paulo - 1977
Mostra individual “Hildegard Rosenthal - Cenas Urbanas” (IMS, 1999)
Mostras coletivas “De la antropofagia a Brasília: Brasil 1920-1950”, no Instituto Valenciano de Arte Moderna (2000)
“Modernas! São Paulo visto por elas”, no Museu Judaico de São Paulo (2022)

Hildegard Rosenthal, nasceu Hildegard Baum em Zurique, na Suíça, em 25 de março de 1913. Filha de pais alemães, passou toda sua infância em Frankfurt, onde estudou em uma escola protestante para moças, a Katharinenschule. Desde a juventude, Hildegard já cultivava seu interesse pela fotografia, tendo participado de cursos de fotografia com Paul Wolff, com quem se aproximou da prática com câmeras de pequeno formato - como a Leica -, e no Instituto Gaendel, onde, por três anos, estudou química e práticas laboratoriais para revelação de negativos. Nesse momento, ganhou o 1° prêmio no Concurso Internacional de Fotografia promovido pelo prestigioso jornal vienense Neue Freie Presse (atual Die Presse), com Retrato de um menino.
Aos 20 anos, mudou-se para a França, onde trabalhou como au pair em casas de família enquanto estudava Pedagogia, com o apoio de uma bolsa de estudos. Em Paris, conheceu seu futuro marido, o judeu Walter Rosenthal. Em 1935, um ano depois de se conhecerem, o casal optou por retornar para Alemanha, onde Hildegard foi contratada para atuar como fotógrafa pela empresa Rhein Mainischer Bildverlag. No entanto, com a intesificação da peseguição nazista, o casal retornou rapidamete à Paris para fugir da perseguição da Gestapo, visto que sua união era marcada pela ilegalidade. Apesar de não ser ela mesma judia, sua relação com Walter infringia as Leis de Nuremberg (1935).
Durante sua estadia na França, Hildegard seguiu trabalhando como au pair para Eugenia (Guina) Markowa e seu marido Marek Szwarc, escultor judeu-polonês, criador do grupo impressionista Yung-Yidish. Por intermédio do casal, Hildegard se aproximou de círculos artísticos e intelectuais da capital francesa. A partir desses contatos e com uma carta de recomendação destinada à Lasar Segall, foi apresentada a figuras importantes do modernismo brasileiro, como Tarsila do Amaral, Sérgio Milliet e Mário de Andrade, após imigrar para o Brasil, em 1937.
Uma vez instalada em São Paulo, se utiliza de sua robusta bagagem artística para buscar emprego e sustento. Hildegard inicia seus trabalhos no estúdio fotográfico “Kosmos Foto” — como orientadora de laboratório — , onde era a única mulher em meio a 23 homens. Posteriormente, assumiu o cargo de diretora da recém-lançada agência Press Information, que tinha por objetivo enviar fotorreportagens para veículos de imprensa internacionais e nacionais. Nesse momento, publicou fotografias nos jornais Folha de S.Paulo, Estado de S. Paulo, La Prensa (Buenos Aires) e nas revistas Geography Magazine (Londres), Observador, A Cigarra, Sombra e Rio, entre outros. Por alguns meses, assumiu a coluna feminina do Suplemento em Rotogravura, do jornal O Estado de São Paulo. Nesse contexto, tornou-se a primeira mulher a atuar como fotojornalista no Brasil, ainda na década de 30.
Hildegard se opunha à prática fotográfica em estúdios, fazendo da rua o locus de sua prática. Em suas fotos, percebemos a opção por fotografar o cotidiano da cidade, seus personagens comuns e espaços vividos, dando menor atenção aos monumentos grandiosos e os marcos da paisagem da capital paulista. Com relação a sua construção estética, é possível entrever o gosto pela composição formal bem estruturada e geometrizante, além da valorização dos contrastes entre luz e sombra. Outro aspecto marcante de sua prática foi a criação de fotomontagens, em especial a obra “Menino jornaleiro” (1940), produzida sob encomenda para o setor de publicidade do jornal Folha da Manhã.
O conjunto fotográfico produzido por Hildegard Rosenthal foi deixado às margens da historiografia da arte e da fotografia brasileira por algumas décadas, até ser recuperado por Walter Zanini, então diretor do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC-USP), em meados dos anos 70. Tido como um ponto de virada para a circulação e recepção de sua obra, foi nesse momento que sua primeira mostra individual foi realizada - “Hildegard Rosenthal Fotografias” (1974) -, acompanhada da incorporação de seu conjunto fotográfico ao acervo do museu. Desde então, suas fotografias foram incorporadas em 17 mostras e 5 publicações realizadas pelo MAC-USP. Em 1977, Hildegard conquistou o prêmio de melhor fotógrafa na 14ª Bienal de São Paulo, a partir da apresentação de um conjunto de 82 de suas antigas fotografias, datadas, em sua maioria, do período entre 1938 e 1940.
Posteriormente, em 1996, uma coleção com cerca de 3400 de seus negativos foi adquirida pelo Instituto Moreira Salles, desencadeando um novo momento de revisão de sua obra, que passa a integrar mostras individuais e coletivas na instituição - como “Hildegard Rosenthal,  Cenas Urbanas” (1999), “São Paulo 450 anos: a imagem e a memória da cidade no acervo do IMS” (2004), “Hildegard Rosenthal” (2007), “São Paulo: três ensaios visuais” (2020) - além de se tornar tema de pesquisa de uma série de acadêmicos, no Brasil e no exterior. A instituição organizou, também, duas publicações de apresentação de sua obra, os livros “Metrópole - Hildegard Rosenthal” (2009) e “Cenas urbanas” (2018).
A obra fotográfica de Hildegard foi exposta, também, em mostras de diversas outras instituições, como em: “Um olhar feminino dos anos 40”, na Galeria Fotóptica (1993); Coleção Pirelli”, no MASP (7ª edição, 1997); “De la antropofagia a Brasília: Brasil 1920-1950”, no Instituto Valenciano de Arte Moderna (Espanha, 2000), “Panoramas São Paulo”, no MIS (2004), “Horizonte Construído: fotografia e arquitetura nas coleções do MAM”, no MAM Rio (2011), “20 anos de NAFOTO”, na Caixa Cultural São Paulo (2011), “Percursos e Afetos. Fotografias 1928-2011”, na Pinacoteca de São Paulo (2012), “60 fotos do Arquivo Fotográfico Lasar Segall”, no Museu Lasar Segall (2013), “Modos de ver o Brasil”, Oca (2017), “Modernas! São Paulo vista por elas”, no MUJ, entre outras.

Referências: 
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ISBN: 978-85-63735-10-2