Brill, Alice (Colônia - )

Vida: 
1920 a 2013
País: 
Alemanha
Autor: 
Luiza
Campo de atuação: 
Fotojornalismo
Fotodocumentação de obras de arte
retrato fotográfico
Trajetória fotográfica: 
Revista Habitat
Museu de Arte de São Paulo (MASP)
Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM)
Destaques: 
Segunda mulher fotojornalista a atuar no Brasil. Mostras individuais “O Mundo de Alice Brill” e “Alice Brill: impressões ao rés do chão”, ambas no IMS
Mostras coletivas “São Paulo 450 anos: a memória e as imagens da cidade no acervo do Instituto Moreira Salles”
“São Paulo: três ensaios visuais”, ambas no IMS, e “Modernas! São Paulo visto por elas”, no MUJ

Alice Brill Czapski nasceu em Colônia, na Alemanha, em 13 de dezembro de 1920. Filha de mãe e pai judeus — Marte e Erich Brill —, cresceu em Hamburgo em meio a um ambiente familiar intelectual e artístico. Com a ascensão de Adolf Hitler ao poder em 1933, sua família optou por deixar seu país em direção à Espanha, passando também pela Itália e Holanda, até se estabelecer definitivamente em exílio no Brasil, em 1934. Foi nesse período, em trânsito, que Alice produziu suas primeiras fotografias, com uma pequena Bela Box que ganhou de seu pai.
Já no Brasil, sua família optou por residir em São Paulo - após breve estadia em Paquetá, bairro insular do Rio de Janeiro - onde Alice pode continuar seus estudos, tendo frequentando a escola estadunidense Graded School entre 1936 e 1937. Nesse mesmo momento, Alice esboça uma maior aproximação com o mundo das artes ao começar a trabalhar na livraria Guatapará, frequentada por uma série de artistas e intelectuais interessados em seu acervo especializado em arte, história, filosofia, política e literatura. Lá, conheceu Paulo Rossi Osir, que se tornou seu professor de pintura e a apresentou ao coletivo moderno “Grupo Santa Helena”, formado por figuras como Alfredo Volpi, Aldo Bonadei e Mário Zanini.
Após o fim da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), Alice pode realizar um intercâmbio para os Estados Unidos, com ajuda de alguns parentes paternos que haviam se refugiado naquele país. Graças a uma bolsa de estudos financiada pela Hillel Foundation for Jewish Campus Life, frequentou a Escola de Artes da Universidade do Novo México, entre 1946 e 1947, até se transferir para Nova York, onde estudou na Art Student’s League. Em seu intercâmbio, Alice começou a pensar mais seriamente sobre sua carreira e visões de mundo, enquanto estudava artes plásticas e aprendia a fotografia enquanto ofício.
Ao retornar de seu intercâmbio, em 1948, Alice teve a oportunidade de aplicar seus novos conhecimentos e buscou se profissionalizar, iniciando sua carreira como fotógrafa. Dessa forma, começou a colaborar com o Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM), o Museu de Arte de São Paulo (MASP) e com a revista Habitat, para a qual fazia registros documentais de arquitetura e obras de artes, além de fotorreportagens variadas, entre 1948 e 1960. Paralelamente a esta produção, Alice mantinha-se em contato com o circuito artístico de São Paulo, realizando retratos de artistas e fotodocumentação de obras de artes e exposições. Se envolveu, também, com a produção de retratos de crianças e famílias abastadas da região, ambos sob encomenda.
Por conta de sua produção fotográfica para a revista Habitat, Alice é considerada a segunda fotojornalista mulher a atuar no Brasil, após Hildegard Rosenthal, que atuou na década de 40. É importante pontuar que ela não encarava a fotografia como uma paixão ou ambição artística, mas como um empreendimento profissional que objetivava o sustento de sua família durante os anos que seu marido, Juljan Czapski, se dedicava à faculdade de medicina. Por isso, seu período de atuação profissional enquanto fotógrafa foi curto e se encerra logo no início da década de 60, momento de melhora financeira de sua família devido à estabilização profissional de Juljan. No entanto, após o fim de sua carreira profissional, Alice ainda realizou algumas fotografias — de maneira mais esporádica — especialmente em reuniões familiares e viagens.
Ao optar por encerrar suas atividades profissionais no campo da fotografia, Alice pode se dedicar às artes plásticas, expondo suas obras na Bienal Internacional de São Paulo (1951 e 1967) e no Salão Paulista de Arte Moderna, entre os anos de 1961 e 1968. Dedicou-se, também, à carreira acadêmica, tendo concluído graduação (PUC-SP), mestrado (USP) e doutorado (USP) em Filosofia, em 1976, 1982 e 1994, respectivamente. Ainda na década de 70, Alice atuou também como colunista do “Suplemento de Cultura” do jornal O Estado de S. Paulo, como crítica de arte, chegando a publicar parte dos seus textos no livro “Da arte e da linguagem”, em 1988. Atualmente, é possível encontrar arquivos fotográficos de Alice em duas instituições: uma coleção de 14 mil negativos adquirida pelo Instituto Moreira Salles (IMS) no ano 2000, e outra menor, com apenas 107 fotografias, incorporada ao Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC-USP) em 1974.
A partir da incorporação das fotografias de Alice ao acervo do MAC/USP, sua obra foi redescoberta e voltou a circular pelo cenário artístico nacional, sendo exposta em diversas mostras coletivas e individuais desde então. Em 1984, algumas de suas fotografias integraram a exposição “A fotografia e os anos 50”, do MAC/USP. Já em 1992, participou da mostra “Retrato de artista, doze fotógrafos retratando grandes artistas”, do MASP. Além destas, temos também “Imagens de São Paulo”, de 1990, duas edições de “A cidade dos artistas”, em 1997 e 1999, “Plataforma: São Paulo 450 anos”, em 2004, e “Fotógrafos da Vida Moderna”, em 2008, todas do MAC/USP.
Com relação às mostras coletivas organizadas pelo IMS, suas fotografias foram expostas em “Arte e inconsciente: três visões sobre o Juquery”, de 2002, “São Paulo 450 anos: a memória e as imagens da cidade no acervo do Instituto Moreira Salles”, de 2004, e“São Paulo: três ensaios visuais”. Em 2005, foi organizada a primeira mostra individual de suas fotografias, “O mundo de Alice Brill", no IMS, seguida por “Alice Brill: impressões ao rés do chão” (2015-2016, 2019), na mesma instituição. Por fim, temos a exposição coletiva “Modernas! São Paulo visto por elas”, organizada pelo Museu Judaico de São Paulo, em 2022.
Dentre os livros publicados com suas fotografias, temos “Em torno da fotografia”, editado por Pietro Maria Bardi em 1987; “Canto a la realidad fotografía latino-americana 1860-1993”, editado em Barcelona em 1993; “Fantasia Brasileira: o balé do IV centenário”, realizado pelo SESC Belenzinho, em 1998; “Paisagens Paulistanas”, no ano 2000, além de catálogos de uma série de exposições. Com relação a premiações por sua atuação como fotógrafa, Alice recebeu os prêmios Pirelli-MASP, em 1997, e Porto Seguro de Fotografia, em 2001, além de ter sido homenageada na exposição “Transeuntes” do MAC/USP com uma sala especial.

Referências: 
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ISBN: 978-85-63735-10-2