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Niterói: Motim urbano e revolta popular: o quebra-quebra das barcas, 1959

Entrevistado: Max Kaplan
Entrevistador: Ismênia de Lima Martins e Hebe Mattos
Tipo: entrevista temática
Duração: 01:10:00
Local: LABHOI/ICHF/UFF
Data: 07/04/2002
Sumário


FITA I - Lado A:
Nascimento: 17 de fevereiro de 1929, Niterói.
Família: Pais imigrantes judeus poloneses, vieram para o Brasil entre 1922 - 1923. Chegam ao Brasil através de uma tia residente no país. Pobres e semi-analfabetos incentivam e pressionam os filhos a estudarem. Mãe, doméstica, pai, "alfaiate". Seu pai torna-se homem de grande influência em Niterói no meio comercial. Eram três filhos, ele era o do meio.
Escolaridade: Max faz o curso primário na Escola Pública Pinto Lima, admissão no Colégio Carvalho (atual Plínio Leite), estudando depois no Bittencourt Silva.
Outros locais de moradia: Nasceu na rua Visconde do Rio Branco; depois morou na rua Visconde de Uruguai; foi morar depois numa Vila na rua São João e mais tarde na rua São João no. 259.
Distribuição Urbana: Fala de ruas no centro de Niterói que eram exclusivamente comerciais, de outras que eram residenciais mas que conviviam também com pequeno comércio em certa localização.A rua Visconde de Uruguai, mais afastado rua Visconde de Itaboraí, Coronel, a própria Coronel Gomes Machado, mais pra cima, São Pedro, Rua São João, como sendo residenciais.
Resumo da vida: Cursa Engenharia até o 3º ano. Em 1951, vai trabalhar na Caixa Econômica, RJ. Faz vestibular para a Escola de Farmácia. e Odontologia, RJ e cursa. Casa - se em 1958, com Maria Auxiliadora Coelho da Silva, sofre resistência da família, por ela não ser judia. Não tiveram filhos. Cursou Ciências Sociais (1968 - 1971), pede licença da Caixa Econômica e vai trabalhar no IBRADS até 1972Sua ida para a Inglaterra para que a sua esposa pudesse cursar o doutorado.
É convidado pela Profª Aydil para dar aula no ICHF: tem problemas com o atestado ideológico, não podendo aceitar o convite.
Retomando a vida profissional. No retorno da Inglaterra é convidado pelo Professor Santo Conterato, chefe de Departamento no ICHF, para ser Professor colaborador. Depois de trabalhar mais 21 anos, se aposenta compulsoriamente.

Lado B:
Fala de sua participação no movimento estudantil como representante do Centro de Estudos Gerais: o não recebimento do atestado ideológico.
Contato com as barcas: Fala de seu trajeto: de casa, na São João, 259, para a estação, de bonde ou a pé. Constantes atrasos das barcas. O mau emprego do subsídio do governo; o não pagamento dos funcionários. A sociabilidade e a tranqüilidade da viagem de barcas. A greve. O Sindicato Naval.
Cotidiano da Cidade: Niterói é vista por Max, como a cidade dormitório. Poucos cinemas, poucas atividades teatrais, a vida cultural era mais voltada para o Rio. As pessoas freqüentavam as casas umas das outra com mais freqüência. Não havia muitos prédios, a maioria das habitações eram casas de vila, o que facilitava a convivência. Niterói é colocada como a cidade família, aconchegante. Destaca pontos de lazer como: trampolim, na praia de Icaraí, o Lido, em São Francisco, a praia de São Francisco. O tempo de duração da viagem de bonde: uma hora, do Centro a São Francisco
O Dia D: Casado, morando na Mem de Sá, vai para a Gavião Peixoto, com a sua esposa, esperar a cunhada, que trabalhava no Rio. Pegam o bonde e vão para o Centro. Encontrando longa fila a cunhada vai para o Rio, em um barco de pescador. Quando ficam sabendo do acontecido, voltam e acompanham os fatos através do rádio e da televisão.
Interpretação do acontecimento: Max vê a revolta como fruto da indignação do povo, diante dos péssimos serviços e da má administração dos Carreteiros. Avalia o movimento, essencialmente, como popular e espontâneo.
Registro Social dos Carreteiros: Max coloca que a família Carreteiro não tinha o mesmo prestígio social, que tinham as famílias tradicionais da elite de Niterói. Eram considerados "novos rich", "emergentes". Fala do crescimento econômico dos Carreteiros e de como os exageros dos gastos agrediam a população, a classe operária, trabalhadora.

Uma greve demorada: Max coloca que a greve desencadeou a revolta, destacando a demora do governo em resolver o problema.
A imagem do Governador: Max coloca que o governo não permitiu que a polícia militar entrasse em conflito com a população. Roberto da Silveira é acusado de ter fomentado a revolta. Max coloca que ele não interferiu, não tomou providências para conter o povo, deixou que quebrassem tudo. Segundo avaliação de Max a revolta não abalou o prestígio político de Roberto da Silveira no meio popular, pelo contrário, consolidou.
O dia seguinte: Max fala que o dia seguinte foi tranqüilo, as pessoas procuravam saber das notícias nos jornais. Falam de Afonso Celso (Afonsinho), sua exaltação e seus discursos.

FITA II - Lado A:
Max retoma a questão das barcas como transporte barato. A questão da carestia. Faz um panorama da tragédia: o incêndio do mercado Santo Antônio, do restaurante Miramar. A questão dos atrasos e da greve que levou a revolta.Personalidades Políticas: Celso Peçanha, Badger Hamilton Xavier e Loretti (destaque especial).Conclusão: Na visão de Max Kaplan, a falta de respeito dos Carreteiros para com a população, teria insuflado a ira popular, desencadeando a revolta.

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