Música

JONGOS

Também conhecidos como caxambus e tambus, os jongos são manifestações culturais executadas por afrodescendentes em várias localidades no estado do Rio de Janeiro e sudeste do Brasil, desde o século XIX. Nas cidades, em geral, dependendo da conjuntura, poderiam ser proibidos ou tolerados. Mas sempre necessitavam de alguma autorização senhorial ou policial. Na área rural, alguns municípios proibiam os batuques, nome genérico que recebiam os jongos, mas, com alguma dose de negociação, eles poderiam ser realizados. Os folcloristas que descreveram os jongos no sudeste, a partir do final do século XIX, apostaram, equivocadamente, no seu desaparecimento. Atualmente os jongos apresentam percussão, dança e canto, em forma de poesia. A dança, próxima da fogueira, é em círculo, no centro do qual os dançarinos evoluem. O jongo pode ser cantado por um ou mais solistas, sob a forma de desafio. O restante do grupo, como um coro, responde em refrão. As memórias dos velhos jongueiros revelam que a prática do jongo envolve feitiço, poderes mágicos e segredos partilhados por familiares. Os jongos hoje proporcionam a solidariedade comunitária e o orgulho de um patrimônio compartilhado e valorizado. Desde 2005 o jongo do sudeste recebeu o título de Patrimônio Cultural Brasileiro.

Ouça o jongo

Tia Marina canta o Jongo

CALANGOS

Pouco estudados pelos especialistas, os calangos animavam e animam, com sanfona, versos, desafios e refrões, os bailes rurais das comunidades afrodescendentes no estado do Rio de Janeiro. Dançado em pares, os calangos aconteciam e acontecem muitas vezes nas festas de jongo, dentro das casas, envolvendo principalmente os mais jovens, ao longo do século XX. As memórias sobre o calango entre os mais velhos trazem à tona, sempre com muita emoção, os cantos de trabalho e as festas que reuniam todas as famílias e fortaleciam os laços comunitários. Não temos notícias de calangos no século XIX, mas as sanfonas parecem ter sido difundidas no sudeste cafeeiro e no norte do Brasil ao redor da guerra do Paraguai (1864-1870). Segundo Renato Almeida, as sanfonas provavelmente chegaram ao Brasil através do Rio Grande do Sul, com os italianos, na década de 1830. Para Mário de Andrade, elas se generalizaram do centro para o norte do Brasil.

Ouça o Calango

Calango de Itakamosi - Grupo Itakalango

Roda de Calando em Barra do Piraí, versado por Feijão

FOLIAS DE REIS

Grupos de devotos dos Reis Magos, com cantos e símbolos devocionais, percorrem várias localidades do estado do Rio de Janeiro, em épocas próximas ao natal. Ao longo do ano, encontram-se nas festas de arremate, onde um dos grupos recebe folias de diversas regiões.  Compostas, em geral, por mestres, contra-mestres, palhaços e músicos, as folias organizadas por famílias afrodescendentes guardam especial apreço ao rei negro. Há registros dessas folias desde o século XIX, quando começaram a ser perseguidas e afastadas dos centros urbanos. No século XX, a organização de federações foi uma resposta a essas perseguições e uma garantia de legitimidade e autorização frente às autoridades policiais.Vistas como folclore, tradição ou devoção, as folias seguem seus caminhos nos dias de hoje. Nos encontros de folias, os dotes poéticos e os desafios em versos dos palhaços são cada vez mais valorizados. As memórias que os mais velhos guardam das folias valorizam também a poesia devocional dos mestres e as disputas de versos entre eles. Indicam ainda o quanto essas manifestações envolvem-se com a transmissão e a vivência de um patrimônio familiar e comunitário muito antigo e identificado com as populações afrodescendentes.

Ouça a folia de reis

Folia de Reis de Duas Barras