Vale do Paraíba (Sul)
Das praias do Litoral, cerca de um milhão de africanos banto subiram a Serra do Mar em direção às regiões cafeeiras do vale do Paraíba. O grande boom dos anos 1830 e 1840 se fez em direção ao Vale do Paraíba Ocidental, ao sul do Estado do Rio de Janeiro. Os africanos banto formavam então cerca de 90% da população cativa dos municípios de Bananal, Piraí, Valença, Vassouras, Paraíba do Sul, entre outros. Os batuques, jongos ou caxambus, nas fazendas da região foram registrados por viajantes estrangeiros no século XIX, e ainda hoje podem ser vistos. De lá vieram para o Rio de Janeiro personagens expressivos do jongo, como Clementina de Jesus e o Mestre Darci da Serrinha.
“Sou filha de Antonio Munhangambo e de Benta da Silva. Nasci na Fazenda Santa Tereza. O dono era o Visconde Avelar. Isso lá em Paraíba do Sul. Meu pai veio da África. Era escravo. Eu nasci de ventre livre. Naquele tempo as coisas eram boas e ruins. Meu pai dançava e cantava o jongo e tocava viola. As pessoas da fazenda quando tinham qualquer dor, ele passava a mão em cima e a dor sumia. Ele sabia muita coisa. O pessoal da casa do visconde tinha medo dele. O Dr. Avelar, filho do visconde, era muito ruim. (…) Aprendi a dançar jongo com meu pai. Antonio Munhangambo, o africano. Naqueles tempos era coisa muito séria. Nas noites de sábados os escravos dançavam o jongo para o pessoal do Visconde. Quem não dançasse apanhava. Já dancei 3 dias e 3 noites. Agora ninguém sabe mais dançar o jongo.” (Vovó Maria Tereza, da Serrinha, sobre sua infância).
Registramos em nosso acervo memórias e performances de grupos de jongo no Quilombo São José da Serra e Barra do Piraí.
O Grupo de Jongo do Quilombo São José foi signatário, junto com o conhecido Jongo da Serrinha, da solicitação de reconhecimento do Jongo como patrimônio cultural brasileiro. O Quilombo São José reúne os descendentes de Tertuliano e Miquelina, casados ainda como escravos, na antiga fazenda cafeeira de São José da Serra, em meados do século XIX. Está situado no município de Valença, entre Conservatória e Santa Isabel. Desde então, a fazenda conheceu vários proprietários nominais, mas os filhos, netos, bisnetos e tataranetos de Tertuliano e Miquelina ali permaneceram, com suas casas, roças, festas e práticas religiosas. Hoje aguardam, com grande expectativa, a titulação definitiva de seu território.
No município de Barra do Piraí também podem ser encontrados importantes jongueiros. Um dos maiores centros comerciais da antiga região cafeeira, Barra do Piraí reúne hoje uma expressiva população negra descendente dos antigos escravos da região cafeeira. Registramos especialmente entrevistas e performances do caxambu da Tia Marina e da caxambu do Tio Juca, que têm seus grupos de jongo na cidade. Fizemos também entrevistas com calangueiros do grupo Itakalango, de Vassouras, moradores em Barra do Piraí e com Seu Manoel do Calango, morador em Pedro Carlos, distrito de Valença, próximo ao Quilombo São José. Continuamos a fazer entrevistas na região.
Contatos:
Jongo do Quilombo de São José da Serra
Toninho Canecão – Antônio Nascimento Fernandes(24)2457-1121/2457-1130 toninhocanecao@yahoo.com.br
Em 13 de maio a comunidade realiza uma grande festa – Dia dos Pretos Velhos
Jongo de Barra do Piraí
Associação Cultural Jongueiros de Barra do Piraí
Presidente – Eva Lúcia (24) 2443-1397/ivanine.rosa@ig.com.br
No mês de novembro, na semana do dia 20, acontece a festa da Consciência Negra.
Grupo Itakalango
Édson Torres (24) 2445-3558
O grupo realiza uma roda de calango sempre no terceiro domingo do mês na Praça de Itakamosi – Vassouras.