Antônio Bylaardt Bacellar do Carmo foi bolsista do Pibid no Subprojeto História UFF – 2014 (Entrega do memorial – 11/2017)

MEMORIAL - RELATO DE EXPERIÊNCIA: PIBID - HISTÓRIA/UFF

Eu, Antônio Bylaardt Bacellar do Carmo, licenciando em História na Universidade Federal Fluminense (UFF), bolsista de Iniciação à Docência atuante no Colégio Estadual Guilherme Briggs (sob a supervisão da Prof.ª M.ª Eleonora Abad Steffenson e a coordenação do Prof. Dr. Marcus Ajuruam de Oliveira Dezemone), venho a relatar minha experiência no Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID) em História da UFF através deste texto.

Cursei tanto o Ensino Fundamental quanto o Médio numa escola particular de minha cidade, no bairro de São Francisco, chamada Associação Educacional de Niterói (AEN). O fato deste colégio oferecer descontos a funcionários do Banco do Brasil (afinal, havia sido fundada por um grupo destes) tornava-o uma escolha óbvia para minha mãe, bancária nesta empresa. Aproveitei muito meus estudos nesta instituição, cujo foco pedagógico em reflexões críticas sobre sociedade e cidadania me incentivaram a buscar a área das Ciências Humanas, apesar de meu fascínio com a Arquitetura & Urbanismo me levar a prestar o ENEM para este curso na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), onde permaneci por cinco períodos (tendo atuado como monitor em um deles). Ao longo deste período pré-ingresso na UFF, tornei-me fluente em inglês e espanhol (através de cursos extracurricular e curricular, respectivamente), e proficiente nos softwares gráficos AutoCAD, SketchUp, Photoshop e CorelDRAW.

No entanto, meu prospecto profissional me desanimava; me via mais ansioso para ensinar Arquitetura do que para praticá-la. Voltando a meus cadernos e anotações de Ensino Médio, me vi decidido a ser professor - só não sabia de quê. Após acompanhar algumas aulas de História na UFF como ouvinte (minha companheira, também licencianda em História nesta instituição, me convidou), tomei coragem e refiz o ENEM para este curso, ingressando em 2015.1.

Meu entusiasmo pela Licenciatura deu lugar a algumas preocupações após cursar as disciplinas de Organização da Educação no Brasil (OEB) e, especialmente, Didática, quando me vi completamente alheio à teoria e prática docente, além de distante do universo da Educação Básica pública. Seria completamente inapropriada minha atuação futura num processo tão delicado e fundamental quanto a Educação sem nunca ter sequer pisado numa escola pública. Observando as

ricas experiências de colegas de curso que ingressaram no PIBID, percebi que o Programa seria um instrumento essencial na minha formação enquanto docente.

No meu primeiro dia no CEGUIB, a Prof.ª Eleonora me disse que este não seria um estágio de observação, e sim uma experiência ativa, propositiva. Confesso que me assustei um pouco neste momento, já que não me via preparado para tal atividade; mas como aprendi com o Prof. José Artur Fernandes, a prática e a teoria muito se misturam na docência, e de pouco serve uma formação em Educação que não envolva prática. Fui apresentado às turmas que acompanharia como monitor, 2003 e 1001, que bem me receberam, e às duas linhas de projetos educacionais desenvolvidos pelo PIBID-História/UFF no CEGUIB: História do colégio, da comunidade e suas interpenetrações; e História e Cultura africanas e afrobrasileiras em sala. Esta última linha também conta com a presença e colaboração constante do Coletivo Cultura Negra na Escola.

Participei do I Encontro das Avós do CEGUIB, onde alunos convidaram suas avós para compartilharem as suas histórias de vida, suas memórias familiares, e lembranças sobre o bairro e comunidades em torno da escola. Me surpreendi ao descobrir que o CEGUIB é um colégio centenário, em que as avós, avôs, mães e pais de grande parte dos estudantes estudaram. No contexto atual, em que a Educação pública, tanto Básica quanto Superior, está sob ataque de forças precarizantes e privatizantes, é notável o impacto que as alterações nas políticas educacionais impostas sobre o colégio têm sobre as comunidades ao redor da escola.

Este projeto faz as duas linhas de força do PIBID no CEGUIB convergirem, pois estamos captando e visibilizando as histórias negras destes territórios urbanos marginalizados. Recentemente, entramos em diálogo com o Laboratório de História Oral da UFF, com a intenção de instrumentalizar a nós e aos estudantes do CEGUIB para a coleta e organização destas memórias, e para a produção de um material que traga, para um público diverso, estas conexões entre História, Educação, negritude, comunidade, família e o espaço escolar.

O "Café da Manhã das Religiões" também foi uma experiência que muito me fez repensar os meus conceitos de escola e docência. Em duas atividades que experimentei o protagonismo docente (uma sobre mitologias grega e iorubá, e uma outra sobre o Cristianismo em Roma - que trouxe reflexões sobre os diferentes Cristianismos possíveis e o processo de branqueamento e europeização da religião e da figura de Jesus), tive a oportunidade de discutir diferentes religiosidades e tópicos como intolerância e diversidade. Um dos alunos, umbandista, inconformado com a pouca visibilidade dada às religiões de matriz africana no currículo tradicional da disciplina, propôs uma atividade de troca interreligiosa, que tomou a forma de uma roda de conversa onde grupos de alunos apresentaram pesquisas sobre diferentes religiões.

Considerando o processo educativo como o desenvolvimento pleno das potencialidades dos alunos, a escola deve ser, antes de tudo, um espaço de vivência democrática; e os valores pedagógicos propostos na LDB - democracia, cidadania, respeito à diversidade - só podem ser aprendidos pelos alunos se exercitados pelos mesmos. O trabalho já levado a cabo pela Prof.ª Eleonora, pelo PIBID-História/UFF e pelo Coletivo Cultura Negra na Escola é reforçado a cada atividade como esta, onde pude observar, muito emocionado (em parte por ser também umbandista), os próprios alunos refletirem sobre os discursos proferidos durante a discussão sobre religiões de matriz africana e discriminarem, sem necessidade de mediação, as falas "mais fechadas" das "mais abertas" (nas palavras dos mesmos).

Este rico momento de troca de conhecimentos e experiências foi documentado e refletido à luz das teorias pedagógicas interculturais - que tive o prazer de conhecer através de leituras recomendadas pela Prof.ª Eleonora - em um artigo que foi aprovado para apresentação no XI Simpósio de Formação e Profissão Docente (SIMPOED), organizado pelo Instituto de Ciências Humanas e Sociais da Universidade Federal de Ouro Preto (ICHS/UFOP), e a ser realizado de 25 a 28 de outubro de 2017 em Mariana-MG.

As reuniões regulares entre os bolsistas e a Prof.ª Eleonora, e entre todas as equipes PIBID coordenadas pelo Prof. Dezemone, me mostraram a natureza simbiótica da relação entre teorias educacional e historiográfica e prática docente no Ensino de História. As discussões levantadas me levaram a realizar a necessidade por uma Educação cada vez mais inclusiva, humanizada e democrática, e a importância de uma maior interação entre os saberes acadêmico e escolar de uma forma não-hierarquizada e condescendente.

Acima de tudo, a minha experiência nas salas de aula do CEGUIB transformaram minha noção de docência e até mesmo de estágio. Recordo-me sempre de, enquanto estudante de nível Fundamental e Médio, assistir a uma procissão de estagiários silenciosos (cujos nomes nunca aprendi) entrarem e saírem das salas de meu colégio, nunca falando, nunca agindo - apenas sentando ao lado do professor ou no fundo da sala, assistindo às aulas conosco e anotando em seus cadernos. Não estava preparado para a alegria que senti ao ser abraçado no corredor por um aluno da turma 1001; e a ser reconhecido, chamado pelo nome, e estabelecer uma conexão humana com os estudantes.

Tenho aprendido a importância e delicadeza do trabalho que me aguarda após o diploma; por mais que queiram nos convencer que são números ou tabulas rasas em nossa frente (e porque temos de estar à frente deles, numa disposição hierárquica do espaço?), lidamos e lidaremos com seres humanos, inquiridores e curiosos, num processo extremamente dialógico e que pode ser

surpreendentemente enriquecedor para todas as partes envolvidas. Dado o contexto atual da área da Educação no Brasil, só me resta agradecer, desejar e trabalhar para que este Programa - e todas as experiências que ele proporciona - abarque o máximo de licenciandos quanto possível, e que a universidade e a escola públicas possam trabalhar e resistir juntas contra aqueles que desejam transformá-las em sucata a ser vendida.