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Acervo Trajetórias Docentes

Entrevistado: Yuri Nazario Kurrik
Entrevistador: Memorial - PIBID
Tipo: história de vida
Duração:
Local:
Data: 11/01/2017
Sumário

Yuri Nazario Kurrik foi bolsista do Pibid no Subprojeto História UFF 2014 (Entrega do Memorial – 11/2017)

 

Meu nome é Yuri Nazario Kurrik, sou licenciando no Colégio Estadual Raul Vidal sob a supervisão do professor Luiz Otavio Rodrigues e orientado pelo professor Everardo Andrade. Tenho 26 anos, nascido no dia onze de abril de 1990.

Cursei o ensino fundamental no colégio Sagrado Coração de Maria em Copacabana, e finalizei meus estudos no colégio Santa Teresa de Jesus na Tijuca, onde fiz o Ensino Médio.

Minhas atividades profissionais foram desempenhadas inicialmente enquanto estagiário no programa institucional de bolsa de iniciação à docência nos colégios Cizinio Soares Pinto, onde tive a experiência de trabalhar com a EJA e no colégio Raul Vidal com as turmas do primeiro ano do ensino médio. Tenho experiência há mais de um ano em escolas particulares da rede Miguel Couto, onde tive a oportunidade de trabalhar com praticamente todos os segmentos do ensino básico. Meus cursos extracurriculares são em língua estrangeira (língua inglesa) pelo curso CCAA e informática no curso JFW.

Gostaria, de ressaltar dentro deste memorial, a grande contribuição e importância do PIBID com relação a minha formação enquanto docente, como uma forma complementadora aos cursos de licenciatura cursados no período da graduação em história. Gostaria de ressaltar a experiência que tive em meu estágio, trabalhando em dois colégios: Aurelino Leal e COLUNI, os quais, a parir de suas peculiaridades, enriqueceram minha formação como professor.

Meu interesse em permanecer no programa parte da motivação de continuar adquirindo mais experiências a partir da prática de ensino nas escolas da rede publica, pois é nelas que nós, professores, podemos trabalhar com certa autonomia, além de sentir a gratificação de estar contribuindo de forma rica para a formação dos jovens estudantes que, em grande maioria, vêm de extratos sociais desprivilegiados pelo poder público. Estar em contato com tais alunos permite uma troca muito preciosa de conhecimento horizontal e recíproca, em que ambas as partes vão agregando sabedorias.

As atividades desenvolvidas nas duas escolas em que estagiei pelo PIBID durante esses dois anos foram vastas e extremamente plurais. Inicialmente a prática de iniciação foi realizada com o grupo de graduandos no Colégio Cizinio Soares Pinto sob a supervisão do Professor Marcos André juntamente com os alunos da EJA. Trabalhar com tal segmento foi uma experiência nova, rica, plural, desafiadora e muito interessante, pois se tratava de alunos trabalhadores dentre os quais muitos tinham interrompido seus estudos na idade escolar padrão, devido à necessidade de ingressar imediatamente no mercado de trabalho de forma prematura por motivos socioeconômicos. A oportunidade proporcionada pelo segmento da EJA é uma iniciativa pública extremamente importante no sentido de combater os déficits educacionais que atormentam em grande proporção as classes sociais menos abastadas, dando a esses estudantes a possibilidade de almejar uma nova oportunidade de concluir seus estudos mesmo em idades avançadas e desta forma conseguir não apenas o diploma do ensino médio, como também de forma qualitativa a partir da colaboração recíproca entre alunos trabalhadores e os bolsistas, ampliar seus horizontes no que tange a aquisição do conhecimento histórico, literário, argumentativo e dissertativo.

As atividades especificamente realizadas com os alunos trabalhadores foram o projeto ENEM História, no qual, todas as sextas dávamos as aulas sobre os conteúdos de ciências humanas mais recorrentes dentro do currículo geral de historia abordados nos três módulos do segmento, juntamente com a elaboração do material didático em forma de apostila com os conteúdos e listas de exercícios (o acesso ao material foi disponibilizado para todos os alunos, pois estava dentro da pratica das monitorias). O objetivo desse projeto era dar a possibilidade aos alunos dos módulos 4 e 3 de se prepararem para a prova do ENEM, buscando o ingresso nas universidades públicas e particulares (FIES ou PROUNI). As aulas foram dadas especificamente para os alunos que tinham o interesse e foram inscritos por nós bolsistas para participar do exame, um total de 33 alunos.

Outras atividades mais gerais foram os projetos de cinema, história e literatura, em que trabalhamos com clássicos da literatura brasileira e suas adaptações para o cinema, como por exemplo, a obra de Lima Barreto “O triste fim de Policarpo Quaresma”, “Capitães de Areia” de Jorge Amado, “O Cortiço” de Aluísio Azevedo, “Vidas Secas” de Graciliano Ramos, “Macunaíma” de Mario de Andrade entre outros, com o objetivo de trazer aos alunos a realidade da historia social e política do povo brasileiro.

Outros dois projetos de menor duração foram os seminários sobre os 50 anos do golpe militar, com a apresentação do documentário “Cidadão Boilesen” no museu do Ingá com a turma do módulo 3 e o seminário sobre os 450 anos da cidade do Rio de Janeiro com aulas sobre a cultura carioca e uma aula sobre história urbana da cidade dada pelo professor Cesar Honorato, nosso convidado.

Nosso principal objetivo pedagógico com os alunos da EJA foi a possibilidade de despertar suas consciências históricas, além de quebrar o tabu com relação à diferença entre trabalho manual e intelectual, mostrando-lhes que todos nós independentemente das profissões que seguimos, somos seres intelectuais. Portanto o nosso objetivo e legado ao trabalhar com os alunos trabalhadores da EJA foi o de desconstruir a concepção burguesa de mundo a partir das ideias de Antônio Gramsci com relação à educação divididas em três exercícios: trabalho de critica, penetração cultural e impregnação de ideias.

As atividades desenvolvidas no Colégio Raul Vidal foram diferentes se comparadas àquelas realizadas com os alunos trabalhadores da EJA, porém não menos importantes. Tendo apenas seis meses de trabalho no Raul Vidal, foi possível desenvolver em colaboração com o experiente professor supervisor Luiz Otavio e meus colegas Hugo Fidalgo e Raissa Moreno, um projeto de grande importância temática nos aspectos sociais e culturais, que foi de suma importância no sentido de experiência e aprendizado pedagógico em conjunto aos alunos do primeiro ano do ensino médio.

O projeto desenvolvido no programa PIBID/UFF/CERV foi voltado para a compreensão/construção da consciência histórica, como problematizada e analisada por Jörn Rüsen e a construção da identidade em Stuart Hall. Tivemos como ponto de partida a reflexão de ideias, opiniões e conceitos juntamente com depoimentos, falas e histórias de vida dos participantes (alunos e pais), em suma, suas narrativas. Nossos objetivos foram o de promover encontros propostos pelo professor com alunos e familiares, objetivando a reflexão de temas transversais relacionados à história do presente a partir de aulas compartilhadas entre alunos, parentes e professores.

Abordamos temas como: direitos humanos, igualdade de gênero, racismo, sexualidade, relações de trabalho e poder. A problematização de tais temas teve a finalidade de despertar a consciência e a conscientização dos alunos perante questões tão latentes que os acometem cotidianamente dentro da realidade social contemporânea.

Na prática, centramos nossa abordagem em torno da concepção narrativa de Rüsen, focando em duas estratégias principais, voltadas para o registro das opiniões e posicionamentos dos alunos e responsáveis a partir de mesas redondas, oralmente, além de questionários, como recursos escritos. A argamassa do método estruturou-se na busca pelo entendimento sócio cultural das concepções e influências que cada aluno carrega dentro de si de acordo com suas especificidades históricas formadoras.

Ao final do projeto, percebemos que tais concepções pré-concebidas foram desconstruídas com os exercícios da reflexão a partir das rodas de conversas em conjunto com as leituras dos textos, artigos jornalísticos e documentários passados na sala de audiovisual. Eles tiveram a consciência de que suas percepções, culturas e opiniões referentes ao mundo social são construídas dentro da realidade familiar e do contexto social no qual estão inseridos, percebendo que suas identidades e consciências podem ser transformadas a partir da aceitação da pluralidade da vida social.

A relação entre as escolas em que estagiei teve um link fundamental com a universidade no aspecto do processo de formação e construção da minha formação docente. Foi na Universidade que tive a primeira experiência e possibilidade de iniciar minha carreira e adquirir os saberes experienciais a partir do PIBID e seu intercâmbio com os colégios da rede publica de Niterói, onde o saber acadêmico me ajudou a guiar os direcionamentos da prática docente nas diferentes realidades vividas tanto no Cizinio Soares Pinto como no Raul Vidal.

Nos primeiros anos letivos com a EJA, as atividades e projetos desempenhados só puderam ter êxito na qualidade, devido às aulas ministradas na UFF pela professora Jacqueline Ventura na disciplina optativa de educação de jovens e adultos e as leituras fundamentais para a compreensão pedagógica para desempenhar o papel docente de forma qualitativa e objetiva para tal segmento. Devido a sua qualificação e especialidade na pesquisa pedagógica para tal segmento tão peculiar, foi possível compreender e elaborar a melhor estratégia de trabalho perante os alunos trabalhadores. As leituras de seus artigos e a vasta bibliografia sobre a educação em Gramsci foram de suma importância no processo de transposição didática dentro das salas de aula do colégio Cizinio.

No primeiro ano de PIBID com a EJA, os projetos elaborados e seus respectivos resultados foram expostos na agenda acadêmica, especificamente no encontro anual do PIBID e na MID. Em ambos, tivemos a oportunidade de compartilhar nossos trabalhos com os professores da Universidade, os colegas dos outros subgrupos da historia e de outros cursos de licenciatura. Os encontros tiveram debates e trocas de experiências riquíssimas. No final do primeiro ano de projeto, fomos presenteados com a possibilidade de escrever artigos acadêmicos sobre nossas atividades, o que teve como produção final o livro “Universidade e escola formando professores de história”, obra que teve a contribuição de toda a nossa comunidade do PIBID HISTÓRIA UFF.

Nos anos seguintes, apresentamos mais uma vez nossas atividades desenvolvidas dos nossos subgrupos em mais dois encontros anuais do PIBID, sobre consciência histórica e formação de identidade, transformado em um belo e rico artigo, feito em colaboração com meu colega e amigo Hugo Fidalgo e o professor supervisor Luiz Otavio.

Em todos esses anos, as reuniões entre os grupos coordenados pelo professor Everardo foram constantes, nelas trocamos muitas informações e feedbacks sobre nossos trabalhos, todavia lembro-me de uma experiência muito interessante e laboratorial proposta pelo professor Luiz Otávio, onde eu, juntamente com meus colegas e amigos Ramon Peixoto e Raphael, apresentamos uma aula expositiva sobre Primeira República na faculdade de educação, a partir de uma metodologia desenvolvida pela professora e pesquisadora portuguesa Isabel Barca. O modelo de aula tinha por objetivo apresentar aos alunos os conceitos básicos sobre o conteúdo escolhido, juntamente com a prática do ensino de historia com a utilização direta de fontes primárias e secundárias. Tal experiência foi inovadora, surpreendente e enriquecedora.

Se tratando da relação dentro dos ambientes escolares com seus respectivos funcionários (do faxineiro à direção), posso dizer com total sinceridade que, sem eles, ou sem suas colaborações particulares, nenhum desses projetos desenvolvidos teria sido capaz de serem concretizados. Os dois supervisores que estiveram comigo em toda essa trajetória foram de suma importância para a minha formação, pois foi a partir deles que consegui desenvolver um norte referencial para elaborar e desenvolver minhas aulas e atividades conjuntas com os colegas bolsistas, tanto no que tange ao planejamento de aula, didática, métodos pedagógicos e o jogo de cintura para lidar com a diversidade pessoal de cada aluno. Foram grandes mestres e só tenho a agradecer a oportunidade, o carinho e a paciência que tanto os supervisores, como as diretoras e outros professores colaboradores tiveram comigo enquanto professor aprendiz.

Os dois anos de experiências que tive dentro das salas de aula como estagiário na rede estadual de ensino me possibilitaram ter acesso à realidade social dos alunos de baixa renda, além de vivenciar as dificuldades que o profissional do magistério tem em desempenhar o seu oficio mesmo com tantas adversidades e precariedades das instituições de ensino público na cidade de Niterói, porém, apesar das dificuldades, era encantador ver o engajamento dos professores e as alternativas de trabalhos e projetos que eles desempenhavam nas atividades escolares com os alunos e nós bolsistas a ponto de manter uma autonomia de ensino juntamente com práticas e didáticas que conseguiam acessar as redes de conhecimento e sentido dos alunos.

Tais práticas pedagógicas na relação professor e aluno dentro das experiências que tive, posso afirmar que meus supervisores objetivavam segundo as alternativas de Luís Fernando Cerri ao comprometimento “com a formação de sujeitos” da transformação social, com um pouco mais de liberdade (por exemplo, a de cobrar a coerência com o que reza o texto oficial quando questionado sobre o que o seu trabalho tem a ver com História), continuará tendo que burlar as forças que produzem os sentidos para a educação e o querem reproduzir como executor do que é pensado no "andar de cima".

O PIBID constitui uma importante alternativa para o fortalecimento das licenciaturas em geral, pois coloca os graduandos em contato com a realidade escolar e favorece reflexões acerca de questões que são de suma importância para a contribuição no processo educativo.

As experiências defendidas e expressadas por mim e pelos meus colegas e amigos bolsistas, com relações ás suas perspectivas sobre o privilégio de estarmos integrados ao PIBID, demonstram que as atividades desenvolvidas no projeto colaboraram para uma melhor formação inicial, por meio da discussão de concepções de ensino e aprendizagem que consideram a escola da educação como campo de aplicação dessas estratégias. Com a análise e os relatos expostos, posso concluir que a relação entre nos graduandos e os alunos, ou a relação entre a UFF e os colégios públicos integrados no programa, caminham em vias de mão dupla, ou seja, uma conexão em que todos nós inseridos no universo da educação, saem ganhando reciprocamente. O objetivo no PIBID não é apenas de formar docentes, ou um instrumento para melhorar a qualidade do ensino público, mas sim a de despertar a principal essência do ofício de se educar, de transformar progressivamente as consciências dos seres humanos rumo a uma vida cada vez mais digna de ser vivida.

 

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